5
Noite perplexa, pálida e demente
A se estender da casa à pradaria
Desde o coração da minha gente
Concentrada no salão e escadaria,
Todos à roda do corpo tão presente
A que só eu via a grande espada
Entre as mãos no peito e repousada
Longitudinal e reluzente...
O maestro jazia inanimado
Mas a música de seus dedos se ouvia
A tocar num gravador ultrapassado,
Parecendo vir de longe, muito longe,
D’uma idade recheada de magia
Onde fora grão-senhor, guerreiro e monge...
03/01/2001
sexta-feira, 24 de abril de 2009
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Noites abrasadas (de Alma Welt)
4
Noites abrasadas, tão frequëntes
De minha grande dor transfigurada,
Quando o vão clamor pelos ausentes
Deixava o meu rastro pela escada.
Madrugadas doridas entre os galos
E os latidos longínquos na estrada;
Os minutos escorrendo pelos ralos,
Dedos e passos percorrendo o nada.
Depois o som há muito ausente do piano
Negro e mudo, a vir do tétrico Steinway
Que o mestre dedilhava e tanto amei,
Agora que só tons graves se ouvem
Tangidos pelo intruso Minuano
Como arremedo surdo de um Beethoven...
06/01/2007
Noites abrasadas, tão frequëntes
De minha grande dor transfigurada,
Quando o vão clamor pelos ausentes
Deixava o meu rastro pela escada.
Madrugadas doridas entre os galos
E os latidos longínquos na estrada;
Os minutos escorrendo pelos ralos,
Dedos e passos percorrendo o nada.
Depois o som há muito ausente do piano
Negro e mudo, a vir do tétrico Steinway
Que o mestre dedilhava e tanto amei,
Agora que só tons graves se ouvem
Tangidos pelo intruso Minuano
Como arremedo surdo de um Beethoven...
06/01/2007
A Cavalhada (de Alma Welt)
3
A cavalhada vem durante o sono
E passa por mim em sobressalto,
Que desperto então em pleno Outono
Com as folhas varridas para o alto.
E corro, bah! eu corro desde então
Das minhas horas em fluxo contrário
Que buscam varrer-me para o chão
Com seu vento forte e arbitrário,
O Minuano, sim, se diz meu dono,
E me quer não como às folhas, mas mulher,
Eu que prefiro os cavalos do meu sono
Que brancos como ondas me seduzem
E no abismal galope me conduzem
Aos páramos profundos do meu ser...
10/03/2005
A cavalhada vem durante o sono
E passa por mim em sobressalto,
Que desperto então em pleno Outono
Com as folhas varridas para o alto.
E corro, bah! eu corro desde então
Das minhas horas em fluxo contrário
Que buscam varrer-me para o chão
Com seu vento forte e arbitrário,
O Minuano, sim, se diz meu dono,
E me quer não como às folhas, mas mulher,
Eu que prefiro os cavalos do meu sono
Que brancos como ondas me seduzem
E no abismal galope me conduzem
Aos páramos profundos do meu ser...
10/03/2005
Sob a figueira (de Alma Welt)
"O mundo de Alma Welt"-tela de Guilherme de Faria
Sob a figueira (de Alma Welt)
2
Sob a figueira em sonho estava ela,
A branca peregrina de uma noite,
Sentada de viés em sua sela
Os olhos a pedir que não me afoite.
E eu me aproximei arrepanhando
Minha longa saia de cetim
Com meus pés inseguros caminhando
Numa espécie sedosa de capim
Dourado, como a bruma que luzia
E envolvia tudo em doce flama
Que por si apaziguava e seduzia.
E eu ouvi a voz que se me canta,
E o coração, ao recordar, ainda inflama:
"Virás comigo em breve, Alma, Infanta."
O Gaucho Triste (de Alma Welt)
1
Vinha o gaucho ereto em sua sela,
Montado no vento e sem cavalo.
A noite carecia de uma vela
Que a lua era negra e sem um halo.
“Vai-te”, disse eu, “por quem me tomas?”
“Sou a prenda fiel de pai e irmão,
E não deixarei que escuras formas
Venham entreter meu coração!”
E o gaucho espectral continuava
Ali, com a face branca e triste,
E o zum de seu silêncio se arrastava.
Longos bigodes, chapéu de barbicacho,
No seu punho uma lâmina em riste,
A outra mão a cobrir o rubro facho...
05/02/2004
Nota
Acabo de descobrir um novo tesouro na Arca da Alma: um grosso maço de papel contendo sonetos manuscritos que pelo seu timbre e conteúdo resolvi entitular "Sonetos Delirantes da Alma".
A grande poetisa cultivava também uma vertente obscura e misteriosa, por vezes assustadora, na sua imaginação tão rica de mundos e timbres.
À medida que os for compilando e digitando, irei publicando numerados. Talvez tome a liberdade de entitulá-los, para efeito de melhor divulgação no Google, pois Alma não fez, nem sequer os numerou.
(Lucia Welt)
Vinha o gaucho ereto em sua sela,
Montado no vento e sem cavalo.
A noite carecia de uma vela
Que a lua era negra e sem um halo.
“Vai-te”, disse eu, “por quem me tomas?”
“Sou a prenda fiel de pai e irmão,
E não deixarei que escuras formas
Venham entreter meu coração!”
E o gaucho espectral continuava
Ali, com a face branca e triste,
E o zum de seu silêncio se arrastava.
Longos bigodes, chapéu de barbicacho,
No seu punho uma lâmina em riste,
A outra mão a cobrir o rubro facho...
05/02/2004
Nota
Acabo de descobrir um novo tesouro na Arca da Alma: um grosso maço de papel contendo sonetos manuscritos que pelo seu timbre e conteúdo resolvi entitular "Sonetos Delirantes da Alma".
A grande poetisa cultivava também uma vertente obscura e misteriosa, por vezes assustadora, na sua imaginação tão rica de mundos e timbres.
À medida que os for compilando e digitando, irei publicando numerados. Talvez tome a liberdade de entitulá-los, para efeito de melhor divulgação no Google, pois Alma não fez, nem sequer os numerou.
(Lucia Welt)
Assinar:
Postagens (Atom)